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Uma Teoria Realista da Política Internacional

setembro 19, 2008

– A LUTA PELO PODER: A Política do Status Quo

– A LUTA PELO PODER: O Imperialismo

– A LUTA PELO PODER: Política de Prestígio

 Caracteriza-se por uma natureza empírica e pragmática, a prova pela qual a Teoria Realista da política internacional deve passar. O propósito é trazer ordem e sentido para uma massa de fenômenos que, sem ela, permaneceriam desconexos e incompreensíveis.

Entre princípios vários, o realismo político acredita que a política é governada por leis objetivas que deitam suas raízes na natureza humana. O principal conceito é que o interesse é definido em termos de poder e que esse princípio constitui uma categoria objetiva que é universalmente válida; é consciente da significação moral da ação política; não considera aspirações morais isoladas como leis morais que controlam o universo. É assim, portanto, que têm uma atitude singular, intelectual e moral, com matérias ligadas à política.

 

 A política do status quo visa a manutenção da distribuição de poder que existe em um determinado momento particular na história. Entretanto, isso não significa que essa política seja necessariamente oposta a qualquer mudança que seja. Pequenos ajustes que deixem intactas as relativas posições de poder são perfeitamente compatíveis. Entende-se que na política de status quo não se pode criar um  novo cenário de atuação para os atores, ou seja, é como um filme onde por mais que haja modificações no roteiro, o protagonista continua sendo sempre o mesmo, está claro o seu papel diferenciado daquele realizado pelo coadjuvante.

  

O termo imperialismo é usado indiscriminadamente a todo tempo, sem levar em consideração outro fato que não seja a visão do usuário do termo. O vocábulo vem perdendo significado e cabe ao analista a restituição da significação eticamente neutra, objetiva e definível. É imperialismo o contraste com a política do status quo. A política externa imperialista visa a demolição do status quo.

Teorias econômicas do imperialismo ocultaram sua verdadeira natureza. A teoria marxista reduz todos os problemas políticos como o reflexo de forças econômicas. Na perspectiva marxista o capitalismo é o pior dos males. A Escola liberal, por sua vez, afirma que a raiz do imperialismo está no excesso de mercadorias e capitais que buscam saída em mercados estrangeiros. A teoria ‘diabólica’, apoiada por pacifistas e marca registrada da propaganda consumista, aponta que os que lucram com a guerra se transformam em ‘vendedores de guerra’, são capitalistas perversos somente interessados no ganho particular. Tais teorias, entretanto, perdem sentido quando se entende que, para os capitalistas, está claro o fato de que a guerra não compensa, pois ela traz consigo uma irracionalidade que é estranha à natureza do capitalismo.

O imperialismo pode sr estimulado por uma guerra vitoriosa, por uma guerra perdida (gerado como uma reação ao imperialismo bem sucedido de outros), ou por fraqueza (o vácuo de poder atrai e daí, caracteriza-se como ameaça potencial à sobrevivência de Estados fracos ou de espaços politicamente vazios).

O imperialismo tem como objetivo o domínio de todo o globo politicamente organizado (império mundial); preponderância de poder estritamente localizada (preponderância local); ou domínio limitado geograficamente (império continental).

Os métodos utilizados podem ser diferenciados entre militar, econômico ou cultural. O fim em si é sempre a derrubada do status quo, isto é, a reversão das relações de poder entre a nação imperialista e suas vitimas em potencial.

Para combater uma política imperialista temos a política de contenção que ergue uma parede como quem diz: “-Somente até aqui e nenhum passo a mais!”; o apaziguamento representa uma forma corrompida de política de acomodação (toma lá, dá cá); e a política de temor, onde a partir de um erro inicial nasce um circulo vicioso: o receio mútuo instiga a adoção de uma corrida armamentista, o receio de um lado alimenta o medo do outro, no fim, tem-se a impressão de que era correta a suposição original por evidência empírica.

A identificação de uma política imperialista é um grande problema. Pode-se supor que há imperialismo onde ele nem existe, e também pode acontecer de uma certa política transformar-se em imperialista. Ainda que se identifique a política imperialista, a modalidade em que se apresenta também necessita  ser estipulada para que haja uma contra-política adequada.

Esta claro como é difícil distinguir entre a aparência de uma política externa e sua essência real.

 

 A política de prestígio, em contraste com as atividades de manutenção e aquisição de poder, só muito raramente constitui um fim em si mesma. Sua importância na relação entre as nações é semelhante ao que o prestígio representa nas relações entre os indivíduos

Na luta pela existência e pelo poder, o que os outros pensam sobre nós se torna tão importante quanto o que somos na realidade. O propósito da política de prestígio é convencer outras nações do poder que seu país realmente possui, ou que ele acredita (ou deseja) que as demais nações suponham que ele detém.

Os instrumentos específicos que servem a esse propósito são o cerimonial diplomático e a exibição de força militar. O prestigio (reputação de dispor de poder) é ora empregado como meio de dissuasão, ora como instrumento para a guerra.

A função primária dessa política consiste no poder que tem de influenciar avaliações. Constitui, portanto, um elemento indispensável em uma política exterior que se queira racional. A política de blefe tem êxito a curto-prazo. Ela poder ser usada por necessidade, mas a nação que a usa deve exercitar-se a fim de adequar-se dentro da imagem que divulgou.

Demonstrar ao resto do mundo o poder efetivo que uma nação possui, sem revelá-lo demais ou de menos, é a missão que compete a uma política de prestígio criteriosamente concebida.

Hans Morgenthau diferencia, teoriza e delimita os caminhos que um analista de relações internacionais deve seguir e trilhar. Encontrei nesses textos argumentos fortes e a segurança que outros autores não alcançam com distinta facilidade e clareza.

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A validade da abordagem pós-estruturalista de Shapiro

setembro 5, 2008

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SHAPIRO e a ABORDAGEM PÓS-ESTRUTUALISTA

  • Há coerência em afirmar que a política global deve ser tratada como um texto?
  • Tentarei relacionar a construção de Estados Nacionais à produção cinematográfica. Além de ilustrar o argumento com exemplos a fim de ressaltar a validade da abordagem pós-estruturalista de Shapiro.

 Sim, há coerência em afirmar que a política global deve ser tratada como um texto. Podemos apreciar a relação intima entre práticas textuais e política quando damos reconhecimento adequado aos textos em que o mundo emerge e provido um entendimento da política que foca nessas imposições de significado e valor. São as práticas textuais dominantes e sobreviventes que originam os sistemas de significado e valor dos quais as ações e políticas são dirigidas e legitimadas.

Se um dado aspecto da realidade social é uma questão de contenção ou é tido como natural e não-problemático, o significado é sempre imposto, não descoberto, uma vez que o mundo familiar não pode ser separado das práticas interpretativas através das quais ele é feito.

Por exemplo, se referir à “América Latina” não significa somente se referir a uma área no globo, é ajudar a reproduzir uma forma institucionalizada de dominação, na qual a minoria, parte Hispânica da população na região controla os grupos indígenas originais. Até mesmo o uso do nome de uma nação reconhecida é um gesto político (o autor cita a Guatemala), onde o indivíduo se deixa conduzir pelo modo de representação geopolítico prevalecente.

Textualizar um âmbito de análise é reconhecer que qualquer “realidade” é mediada por um modo de representação e; que as representações não são descrições de um mundo de faticidade (‘facticity’), mas são modos de fazer faticidade. Os modos de análise textualista ou pós-estruturalista enfatizam o “discurso” ao invés da linguagem. O conceito de discurso implica numa relação com práticas produtoras de significado e valor na linguagem ao invés de estritamente a relação entre formas de expressão e seus referentes.

Entender o mundo como mediado por práticas textuais significa encorajar modos de questionamento e inquirição que não são familiares dentro de caminhos mais tradicionais (empírico e interpretativo). Shapiro afirma que a própria análise é uma prática textual.

O Cinema, por exemplo, funciona como “Diplomacia de Hollywood”. Cinema é muito mais do que contar estórias. Em muitas produções norte-americanas, os vilões são latino-americanos traficantes, árabes terroristas e asiáticos tiranos. Bom exemplo é o conjunto dos filmes do agente 007, recordistas de bilheteria. Essa “leitura dupla” (ou alternativa) das produções cinematográficas não é exclusividade dos pós-modernos. Hans Morgenthau sustenta em uma de suas premissas do Realismo que a política é autônoma de outras esferas e que nada é mais importante do que a política, sendo ela o único fim; Maquiavel em “O Príncipe” fala da amoralidade da política. O que se observa é que o Cinema está se valendo dessas premissas. Em tempos onde a censura faz a censura de seu próprio poder, tudo vale em prol da arte. Os fins justificam os meios! Cinema e artes são amorais, mas como toda ação gera uma reação é importante estabelecer controles. O mesmo Morgenthau afirmou que na luta pelo poder, além da Política de Imperialismo e Status Quo, a Política de Prestígio tornou-se uma arma política particularmente importante em um período em que a luta pelo poder é travada não somente mediante o recurso de métodos tradicionais de pressão política e força militar, mas também, em larga medida, como um combate pela conquista das mentes dos homens (manipulando avaliações). O grupo acredita que esses argumentos ditos realistas têm características da “corrente” pós-moderna, pois como eles próprios afirmam, a leitura (interpretação) realista de Clássicos como Tucídides, Maquiavel e Hobbes é uma tentativa de estabelecer uma linhagem intelectual que dê credibilidade aos pressupostos realistas.

Os pós-modernos desconfiam de todas as tentativas de classificação, de todas as categorizações e de todos os esforços para encontrar verdades universais; um empreendimento que consideram incompatível com a alteridade, a abertura, a pluralidade, a diversidade e a diferença em todas as dimensões da vida social. Através da difusão dos chamados valores universais e o apoio da mídia, tem crescido ainda mais a utilização da indústria cultural como instrumento da grande diplomacia. Este fenômeno é extremamente preocupante, seja para a cultura Ocidental, para as relações internacionais, ou para os povos visados por este tipo de produção e pelos interesses político-econômicos que lhe dão suporte, e de modo claro, as influências e determinismos na construção de Estados Nacionais.

A mobilização constante da política externa como prática de produção de perigo e diferença assume lugar central na reprodução do Estado como o local da realização da identidade política e de legitimação da exclusão de subjetividades alternativas que não se ajustem ao regime dominante de poder/conhecimento (Foucault).

Sabe-se que toda verdade é afirmação de uma posição de poder e reflete estruturas de dominação que pretendem, por meio do discurso cientifico, apresentar-se como neutros e naturais. Por isso, a desconstrução trabalha com o intuito de questionar as dicotomias (anarquia/soberania; guerra/paz; cidadão/estrangeiro; identidade/diferença; idéias/interesses; etc) nas quais as teorias dominantes se baseiam para construir sua representação da política global.

Paulo Vizentini, em artigo no site Terra, fala de como é surpreendente como em plena era da informática, milhões de pessoas se deixam levar por uma construção virtual que encobre a realidade, sentindo-se particularmente atraídas pelo idealizado e exótico. E que na luta enérgica contra o terrorismo tem-se esquecido, porém, de lutar contra o terrorismo intelectual. Esse, supracitado, que quase imperceptivelmente adentra as mentes humanas é tão perigoso quanto todas as formas mais alardeadas.

Os desenhos animados também devem ser notados como fonte diplomática e idealizadora. Sobretudo, se relacionam com crianças – matérias-primas -, olhos atentos e absorvedores de conteúdo. Há os acreditam em mensagens subliminares. È comum, os heróis dos cartoons norte-americanos, orgulhosos de pertencer à sua pátria, constantemente se verem envolvidos pela bandeira dos EUA. Os heróis são sempre o cidadão-típico americano, de Batman a Superman, com superpoderes ou ferramentas inusitadas, todos vivem uma espécie de “sonho americano”, com residência fixa em algum estado do dito país. Há uma batalha de audiência e preferência entre esses heróis conhecidos e os ineditismos trazidos pelos asiáticos. Na programação televisiva é corriqueiro se deparar com produções do gênero vindas do Leste Asiático, os mangás fazem sucesso num amplo leque de idades; e independente da ‘falta de receptividade’ estadunidense têm tido muita notoriedade. Lembramos de Arrighi, seus ciclos hegemônicos e sua sutil referência à possibilidade de uma nova potência hegemônica se originar no Leste Asiático…

Ainda no tema de desenhos animados: O Brasil durante o governo Getúlio Vargas (1930-1945), tinha um projeto político que consistia na industrialização política e militar do país. O duplo jogo de Vargas, mantido face ao imperialismo norte-americano e alemão era a decorrência desse projeto. Getulio muito matreiro, conhecendo a germanofobia americana, dissimulou uma aproximação com o 3º Reich. Logo os americanos começaram a negociar com o governo. Fizeram várias concessões para que o Brasil pudesse fechar um acordo pró-aliado. Em todos os sentidos os Estados Unidos buscaram uma integração com o povo brasileiro. Do cinema ao rádio. Em 1941, Walt Disney iniciou uma peregrinação pela América Latina, como parte da política de boa vizinhança adotada pelo governo dos Estados Unidos desde o início dos anos 1930. A viagem também carregava o claro objetivo de angariar a simpatia dos países candidatos a integrar o grupo dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Foi desse caldo de interesses político-militares que surgiram personagens como Zé Carioca (Brasil) e Panchito (México). Walt Disney criou o Zé Carioca como uma maneira de integrar a ave símbolo do Brasil com o famoso Pato Donald americano. Carmem Miranda (portuguesa de nascimento) com o seu “o quê que a baiana tem” passou a ser a namoradinha da América. Esses entre outros recursos foram utilizados pelos americanos para seduzir a opinião publica brasileira. Fechado o acordo, o governo brasileiro cedeu aos americanos o terreno para a construção da base militar americana de Natal no RN. Mesmo enquanto usavam essa galeria de personagens a favor de suas tropas ou contra os Aliados, os países do Eixo proibiram a circulação de quadrinhos Disney em seus territórios. A exceção coube à Itália, por um motivo tão simples quanto irônico: o ditador fascista Benito Mussolini era fã declarado dos personagens de Walt Disney.

O que a análise pós-estruturalista aponta é que a ortodoxia de nossos mundos, social e político, é recriada no processo de escrita, no estilo dos textos através dos quais nossas compreensões dominantes do mundo têm sido construídas.

Shapiro conclui com a elucidação valiosa de que uma prática textual politicizadora é, portanto, não meramente uma questão de introduzir um vocabulário epistemológico alternativo, mas está intimamente conectada com uma oposição radical aos moldes de significado que destextualiza e, por meio disso, remove formas de poder e autoridade.

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